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Sobre a Dor da Perda

Há dores que o tempo não apaga, apenas transforma de lugar. A perda é uma dessas experiências que nos atravessam e nos lembram, com intensidade, da nossa condição humana: a de sermos marcados pela impermanência.

Na psicanálise, a perda é um tema central. Desde Freud, entende-se que perder não é apenas deixar de ter algo ou alguém — é também ser afetado pela ausência, pelo vazio que se instaura quando o objeto amado já não está. A dor da perda se torna, assim, um testemunho da ligação que existia, um eco daquilo que um dia foi vivido com intensidade.

Freud descreveu esse processo como trabalho de luto: o movimento psíquico que permite que o sujeito, pouco a pouco, desinvista daquilo que foi perdido, para investir novamente em outros laços, em novas formas de existir. Mas o luto não é linear. Ele oscila entre lembranças e esquecimentos, entre aceitação e resistência. Cada sujeito vive o tempo de sua própria travessia.

Winnicott nos lembra que, ao suportar a perda, o sujeito também amadurece — aprende a estar só, sem se sentir abandonado. Esse é um ponto delicado: poder ficar só, não como solidão, mas como presença de si. Pois há perdas que revelam que, mesmo sem o outro, algo de nós permanece.

A dor da perda, quando escutada, não precisa ser negada nem curada às pressas. Ela pede pausa, acolhimento, e sobretudo, um espaço para significar o que se foi. Na clínica, esse espaço é o da palavra: onde o sujeito pode narrar o que perdeu e, nesse gesto, reencontrar algo de si que havia ficado junto com o que partiu.

Perder dói — mas é nessa dor que também se abre um campo de criação. Pois se algo se foi, é porque algo existiu. E é na lembrança do que foi vivido que reside a potência de continuar.

“O luto não é o fim da relação, mas sua transformação. A dor da perda, quando atravessada, nos devolve ao movimento da vida — onde o amor e a ausência coexistem, e o sujeito descobre que seguir não é esquecer, mas lembrar de outro modo.”
Dr. Fernando Sousa — Psicólogo e Psicanalista (CRP 11/17507)
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