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O Medo de Ser Amado

Amar é, talvez, um dos maiores riscos da existência. Pois ser amado implica ser visto — e, para muitos, ser visto é também se expor à dor, à rejeição, à lembrança de não ter sido suficientemente acolhido quando mais precisavam.

Na psicanálise, o medo de ser amado não é sinal de fraqueza, mas um eco das experiências primeiras. Freud já nos mostrava que o amor desperta as forças mais inconscientes: o desejo, a falta, a repetição. Quando o outro nos olha com ternura, ele toca também nas feridas que guardamos — aquelas que nos ensinaram que o afeto pode ferir, que a entrega pode doer.

Winnicott dizia que amar exige um ambiente onde o sujeito possa existir sem medo de ser invadido. Mas, para quem cresceu em meio à crítica, à ausência ou ao excesso, o amor pode parecer perigoso. Receber o afeto do outro desperta uma angústia antiga: a de perder o controle, a de ser engolido ou abandonado novamente. E assim, muitos se defendem justamente daquilo que mais desejam — o amor.

O medo de ser amado é, no fundo, o medo de se reconhecer. Porque ser amado é se ver refletido no olhar do outro — e, às vezes, esse reflexo mostra partes de nós que ainda não suportamos ver. É por isso que o amor verdadeiro não é simples: ele convoca o sujeito a se deixar afetar, a lidar com o desamparo que o habita desde o início.

No espaço analítico, esse medo encontra lugar para ser escutado. Entre o analista e o paciente, o amor pode reaparecer em forma de transferência: uma repetição das relações passadas, mas agora num contexto onde o afeto não precisa ser negado. É nesse encontro — entre o que se repete e o que se transforma — que o sujeito descobre uma nova possibilidade de se relacionar, com o outro e consigo.

Amar, então, deixa de ser uma ameaça e se torna um exercício de confiança. E permitir-se ser amado é um gesto de coragem: o de se expor, sabendo que, mesmo que doa, é no vínculo que a vida se reinventa.

“Ser amado é permitir que o outro nos veja — e, nessa entrega, reconhecer que há beleza também na nossa vulnerabilidade.”
Dr. Fernando Sousa — Psicólogo e Psicanalista (CRP 11/17507)
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