Entre o Controle e o Caos

Há um desejo silencioso que habita muitos de nós: o de controlar a vida. Controlar o tempo, o amor, as dores, o que sentimos, o que o outro pensa. Mas quanto mais tentamos dominar o imprevisível, mais nos afastamos do que é vivo em nós.

Na psicanálise, o controle é uma defesa. Ele nasce do medo do desamparo — dessa sensação primária de que o mundo pode falhar conosco, como talvez já tenha falhado um dia. Controlar é, muitas vezes, tentar impedir que a dor volte, que o inesperado nos desmonte, que a ausência nos alcance outra vez. Mas é também uma prisão: o excesso de controle paralisa, congela o que poderia fluir.

Winnicott nos lembra que a saúde emocional depende da capacidade de brincar — e brincar é, por natureza, um ato imprevisível. Quem controla demais, perde o espaço da espontaneidade, da criação, da surpresa. E sem o inesperado, o sujeito deixa de experimentar a própria vitalidade.

O caos, por outro lado, é o território do novo. Não o caos destrutivo, mas o simbólico — aquele momento em que o velho se desorganiza para que algo diferente possa nascer. Na clínica, é quando o sujeito permite que o inconsciente fale, que o discurso rígido se desfaça, que o não saber tenha lugar. É ali, nesse entre, que o real se mostra e a transformação começa.

Entre o controle e o caos existe uma fronteira delicada: é o espaço da confiança. Confiar não é desistir do controle, é reconhecer que há forças que nos ultrapassam — e que, ao acolhê-las, nos tornamos mais inteiros. O processo analítico é, em grande parte, esse aprendizado: o de sustentar o desconhecido sem se perder, o de abrir espaço para o que ainda não tem nome.

Controlar menos não é abandonar-se ao acaso, é se permitir viver. Pois a vida, com suas imperfeições e desordens, é também o lugar onde o sujeito se reencontra com o que é mais verdadeiro.

“Entre o controle e o caos, há um ponto de equilíbrio: o instante em que deixamos de lutar contra a vida — e começamos, enfim, a vivê-la.”